segunda-feira, 9 de março de 2009

"Uma poesia fotográfica..."

"A fotografia realiza a mágica de suspender o fluxo do tempo; fixar e eternizar uma impressão do mundo numa fração de segundo; cristalizar o gesto, o ato, o exato instante, não o antes nem o depois. Ela deixa o rastro, a sugestão do acontecido ou do ainda por acontecer. Evoca, provoca o desejo de ir além do que está posto. Não explica; mostra. Séculos antes da invenção de Daguerre, um tipo de linguagem verbal já cumpria esse papel de captador de instantes, revelador de sensações: o haicai japonês. Concentrava o máximo de sugestão no mínimo de palavras. Distanciava-se da palavra racional, lógica, conceitual, dissertativa. Transmitia a percepção imediata, a intuição, a impressão concreta. Vivo ainda hoje, expressa, num relance, toda a emoção de um evento à maneira de uma imagem. O elemento visual participa da própria natureza da estrutura do ideograma. Haroldo de Campos compara: '(...) o haicai funciona como uma espécie de objetiva portátil apta a captar a realidade circunstante e o mundo interior e a convertê-los em matéria visível'".

in Na Trança do Tempo - Lena Jesus Ponte

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